sexta-feira, 15 de março de 2013

NUMA/UFPA :belenenses continuam consumindo águas minerais com altos níveis de acidez.


  
por Walter Pinto / Janeiro e Fevereiro 2013
foto Laís Teixeira

Pesquisa realizada pela engenheira agrônoma Érika Ferreira Rodrigues, para obtenção do título de especialista em Gestão Ambiental pelo Núcleo de Meio Ambiente da Universidade Federal do Pará (NUMA/UFPA), constatou que os belenenses continuam consumindo águas minerais com altos níveis de acidez. O resultado das análises físico-químicas realizadas em amostras de sete diferentes marcas comercializadas na Região Metropolitana de Belém indicou que todas estão impróprias para consumo e não podem ser classificadas como águas minerais. O estudo, apresentado na forma de monografia, foi concluído em junho do ano passado.
A Portaria nº 2.914, de 12 de dezembro de 2011, do Ministério da Saúde, que dispõe sobre o padrão de potabilidade das águas, recomenda que o pH (potencial hidrogeniônico) da água própria para consumo seja mantido na faixa de 6,0 a 9,5.  Nenhuma das marcas analisadas no Laboratório de Recursos Hídricos do Instituto de Geociências da UFPA está dentro deste padrão. Elas variam o pH entre 3 a 4,5, o que caracteriza águas ácidas, portanto, impróprias para consumo. A análise apresentou os seguintes resultados: Belágua, 3; Top Line, 3,75; Mar Doce, 3,80; Nossa Água, 3,89; Terra Alta, 4,14; Indaiá, 4,52. Como as empresas não permitiram a coleta de águas em suas fontes, a pesquisadora realizou exames em águas à venda nos supermercados, ou seja, examinou amostras de águas comercializadas.
“Uma água precisa ter um pH acima de 6,5 para ser potável. Abaixo disso, não é água potável, podendo, inclusive, causar problemas de saúde”, adverte o professor Milton Matta, orientador do trabalho. Ele explica que as águas comercializadas em Belém são ácidas. “Essa água, sendo consumida durante dez, vinte anos, pode causar problemas gástricos, como gastrites, úlceras e câncer de estômago, doença cuja incidência coloca o Pará em segundo, entre os Estados da Federação.”
O outro aspecto apontado por Matta é que as águas analisadas não podem ser classificadas como minerais. Água mineral é aquela que, além de ter as mesmas propriedades de qualquer água de poço, de qualquer água subterrânea que se conhece, precisa ter um parâmetro em que sobressaia. “Por exemplo, uma água mineral cálcica é a que apresenta incidência de cálcio acima do valor médio das demais águas da região. Assim, temos água mineral potássica, água mineral férrica e assim por diante”. Matta conclui, então, que as águas envasadas e comercializadas em Belém não passam de águas comuns, não podendo, sequer, ser classificadas como águas potáveis de mesa.

Produtos envasados em Belém não cumprem exigências

Em 2005, a imprensa paraense deu grande divulgação ao resultado do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) do estudante de Geologia Desaix Paulo Balieiro Silva, que se propôs a comparar amostras de águas coletadas nas fontes de quatro marcas – Belágua, Nossa Água, Mar Doce e Indaiá – e compará-las com amostras das mesmas marcas coletadas em garrafões comercializados em supermercado. Desaix objetivava verificar a possibilidade de os processos físico-químicos modificarem as águas depois da retirada da fonte, envasamento e comercialização. O resultado, porém, foi surpreendente: nenhuma das marcas poderia ser classificada como “água mineral”, mas como “água potável de mesa”. O artigo 3º do Código de Águas Minerais, do Departamento Nacional de Produção Mineral, define água potável de mesa como “de composição normal, proveniente de fonte natural ou de fonte artificialmente captada, que preencha somente as condições de potabilidade para a região”. Ou seja, não precisa ter um parâmetro em que sobressaia, basta ser própria para consumo.
A repercussão na imprensa provocou manifestação do Ministério Público do Estado (MPE), que emitiu notificação dando prazo de 120 dias para que as empresas efetuassem mudança nos rótulos, com a retirada da classificação “água mineral” e substituição por “água potável de mesa”. Em outra ação, o MPE determinou a coleta nas fontes das quatro marcas pesquisadas por Desaix e realização de análise físico-química no Instituto Evandro Chagas. Embora o prazo tenha se encerrado, as empresas não realizaram a substituição dos rótulos, nem se conhece ainda o resultado do exame.
Para agravar ainda mais o quadro, a pesquisa de Érika Ferreira Rodrigues comprovou o alto nível de acidez das sete marcas d’águas envasadas em Belém, acrescentando três outras às quatro estudadas por Desaix (Top Line, Grenagua e Terra Alta). O resultado das análises mostrou que as “águas minerais” envasadas e consumidas em Belém não cumprem, sequer, as exigências mínimas para serem classificadas como “águas potáveis de mesa”.

Observações rumam para o desenvolvimento sustentável

Além de atestar os níveis de acidez, a pesquisa de Érika Ferreira Rodrigues elaborou um quadro de propostas para o desenvolvimento sustentável das empresas que produzem e comercializam águas minerais em Belém, seguindo o tripé ambiental, social e econômico. O quadro foi traçado a partir da observação em cinco das empresas, considerando que a pesquisadora não foi autorizada a visitar as que produzem as marcas Grenagua e Indaiá.
De maneira geral, ela aponta a necessidade de adequação às determinações da legislação e das instruções normativas. Seguindo as recomendações da ISO 14001, que trata do sistema de gestão ambiental, a pesquisadora constatou que as empresas visitadas fazem uso de soda cáustica no processo de lavagem dos garrafões, o que é recomendado, assim como o uso de água a 50° C. No entanto observa a ausência de monitoramento dos impactos causados pelo processo de limpeza, haja vista a água voltar para o lençol freático. Como solução, aponta para a necessidade de construção de tanques de lavagem. Outra recomendação é adequação do sistema de ozônio ao processo de limpeza microbiológica dos garrafões, que também gera impacto na sustentabilidade do entorno. Observou também a inexistência de coleta seletiva e de reciclagem dos resíduos industriais.
Na parte social, a pesquisadora constatou a falta de creches e escolas para filhos de funcionários em quase todas as empresas, assim como de salas de descanso e ambulatórios para uso dos funcionários. Na parte econômica, observou que, apesar do uso de uniformes completos, os funcionários necessitam de promoção de cursos de capacitação para o trabalho de manipulação de alimentos, assim como para os que trabalham no entorno das empresas e fontes. Outra necessidade diz respeito à contratação de pessoal mais qualificado para o controle do processo. Em relação aos garrafões, Érika Ferreira observou que todas as empresas produzem vasilhames, mas não estão organizadas para exercício do monitoramento sobre eles depois que saem da indústria. Assim, o retorno não é garantido.

Fonte : Beira do Rio

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